Em uma atualidade marcada por movimentos globais contra o racismo, não é preciso ir muito longe para relembrar o tempo em que pessoas não podiam frequentar determinados espaços, devido a suas características étnicas. No interior de Rio Pardo, na localidade de Arroio das Pedras, fica o Rincão dos Negros, quilombo que surgiu em 1888, ano da Abolição da Escravatura no Brasil. Lá, duas igrejas, uma ao lado da outra, são resquícios de quando negros e brancos não podiam assistir à mesma missa, nem dançar na mesma festa.
Nos primórdios, a igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição era frequentada por brancos e, após a Abolição, os ex-escravos receberam de uma fazendeira o terreno vizinho, onde construíram a própria igreja, batizada de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Bela Cruz. Adair David, líder do quilombo, relata que hoje os dois grupos vivem em harmonia. “Antes, negros não podiam ir na festa dos brancos, e vice-versa. Depois, já era permitido ir, mas apenas para ficar olhando, sem participar. Hoje, todos podem dançar juntos, participar dos eventos, vivemos de uma forma bem melhor”, completa.
Reconhecido pela Fundação Cultural Palmares, o Rincão dos Negros é povoado por cerca de 40 famílias descendentes de pessoas que foram escravizadas, famílias estas que, ainda hoje, preservam diversas atividades culturais de seus antepassados. Porém, a presença afro em Rio Pardo não se restringe ao quilombo. “Os negros atuaram na construção de prédios históricos, deixaram sua marca em casas com paredes de pau-a-pique. Foram eles que trabalharam, em 1813, no calçamento da Rua da Ladeira. Outra marca, é o Concurso de Mais Belo Negro e Mais Bela Negra, que vem dos tempos antigos, quando, nas festas de igreja, existia a escolha do Rei e da Rainha, e esta cultura ainda resiste. Existem muitas características presentes em nosso município”, conta a Secretária Municipal de Turismo e Cultura, Aida Ferreira. Ela ressalta ainda, a importância de as pessoas conhecerem sua história e suas raízes culturais. “Povo que não tem história, não tem vida. Alguém nasceu antes de ti, e construiu o que tu vives hoje. Não se pode negar as origens”, conclui.